Reload!

|
Estamos trabalhando para que em breve você tenha novidades.

Afinal, o que é música eletrônica?

|
Em quanto este blog era apenas um mero projeto, em conversas informais com amigos, quando o assunto em pauta era música eletrônica, não era raro ouvir algo como, Afinal, o que é música eletrônica? Acredito que essa pergunta não esteja isolada ao meu grupo de amigos, então, nada mais justo que, se este blog trata especificamente desse estilo de música, postar aqui uma tentativa de explicar o que é e um pouco da sua história.
Bom, partindo do princípio que esse post precisa ser direto, para que a leitura não seja sacal e que seja uma alternativa de referência para pesquisas, nas minhas andanças por sites, conversas e pesquisas, nenhum outro artigo me pareceu tão sucinto e objetivo que o a seguir, claro que apenas uma parte foi extraída, a que se referia ao nosso contexto. Ele foi escrito em 2006 pela DJ Adriana Prates de Salvador Bahia e retrata o uso de psicoativos na cena eletrônica de Salvador, não menos interessante mas, o assunto drogas será tratado posteriormente em outro post. Nos atemos ao nosso assunto.

(...)

EM PRIMEIRO LUGAR: O QUE SE ENTENDE POR MÚSICA ELETRÔNICA?

Sob a denominação “música eletrônica” repousam estilos musicais variados e variáveis, entre os quais há de comum o fato das músicas serem produzidas de forma binária (O termo “binário” refere-se à utilização do computador como ferramenta), possuindo, porém, dentro de cada gênero/subgênero, estrutura, velocidade, timbres e climas característicos (Atualmente, o computador já é utilizado por artistas dos mais diversos estilos. Portanto, elementos como os citados ajudam a conferir características do estilo eletrônico às produções). A expressão generalizadora “bate-estaca” é muito utilizada, especialmente de forma pejorativa, para denominar a música eletrônica. No entanto, esta compreende um vasto universo musical, do qual a House, o Tecno, o Drum and Bass e o Trance são os principais gêneros. Embora seja comumente relacionada às pistas de dança, a música eletrônica abrange também estilos não dançantes como, por exemplo, o Trip Hop, o Illbient, e o IDM (Intelligent Dance Music). Os gêneros também se subdividem. O House, por exemplo, pode ser apreciada nas vertentes Deep, Funky, Tech, Minimal, Soulfull, Hard, Freak, Tribal ou Progressive. O Trance pode ser Euro, Psy, Goa, Morning, Progressive, Fullon, Dark, Tech ou Hard, e assim por diante (Na verdade, não é somente em relação à música eletrônica que isso ocorre. No rock, por exemplo, também existe segmentação: rockabilly, hard rock, heavy metal, death metal, funk metal, new metal, punk rock, pós punk, new wave, grunge, entre outros).

O surgimento da música eletrônica está relacionado a vários eventos, dispersos ao longo do planeta e dos anos. Sem alongar ou entrar em aspectos polêmicos, serão citados os principais acontecimentos relacionados à emergência do que viria a ser, no Brasil, a partir de meados dos anos 90, conhecido como música eletrônica.

Experimentações com sons "sintéticos" são conhecidas desde fins do século XIX. Em relação à música pop, mais especificamente ao que hoje corriqueiramente se denomina “música eletrônica”, pode-se dizer que a história começa com o Kraftwerk, grupo alemão cujos componentes experimentavam produzir música a partir de recursos puramente eletrônicos, no final da década de 60. Esses artistas abriram precedente para a produção de uma música pop baseada em sons que não eram comumente associados com música, como o ruído de um trem em movimento, vidro quebrando ou buzinas de automóveis, por exemplo, sempre evocando o contexto tecnológico e a vida nas sociedades industriais.

Na década de 70 encontra-se outro elemento relevante para o surgimento não somente do que viria a ser conhecido como música eletrônica, mas também de um contexto para sua fruição e formação de uma cultura relacionada, que é consolidação, com o advento da “disco music” (este estilo ficou conhecido no Brasil como "Discoteca"), da frequência aos nightclubs - ambientes fechados onde as pessoas se reuniam para dançar um som reproduzido mecanicamente. Além da freqüência aos espaços de dança, é importante ressaltar que a música House, o primeiro dentre os estilos do que viria um dia a ser conhecido como música eletrônica, começou a tomar forma no início da década de 80, a partir de influências da música Disco, com suas linhas de baixo melódicas e ritmo bem marcado, herdados, por sua vez, do funk.

Em textos que relatam o surgimento da House, sempre aparecem em destaque dois nightclubs e seus respectivos DJs (disc-jocqueis): o Paradise Garage, de New York - clube de frequência multirracial (e “multissexual”), onde atuava o cultuado Larry Levan - e o Warehouse (cujo nome batizou o gênero), de Chicago, onde Franckie Knuckles, considerado o criador da House, comandava o som. A segregação entre brancos e negros, homossexuais e heterossexuais não era a atitude que predominava nesses clubes, ao contrário do que costumava ocorrer em outros ambientes nos Estados Unidos. Como afirma Cheeseman no artigo "History of House": “the emphasis was in the music”. Esses acontecimentos datam da primeira metade da década de 80. Quase ao mesmo tempo, em Detroit, Derrick May e Kevin Saunderson davam ao mundo uma versão menos “soulfull” e mais robótica do som produzido em New York e Chicago, originando mais um gênero de música eletrônica: o Tecno (Foram todos negros os precursores da House, Tecno, Eletro, Hip Hop e Drum'n bass (subgêneros de música eletrônica). Excetuando-se o Trance, pode-se dizer que a música eletrônica tem origem negra).

No fim da década de 80, com a chegada da House e do Tecno americanos ao velho continente e com a popularização de aparelhos eletrônicos como o sampler (que tem a capacidade de armazenar e reproduzir uma amostra selecionada de som em qualquer velocidade, adequando os trechos selecionados à escala musical), surge na Inglaterra a “Acid House”, estilo no qual a construção musical se dava através de colagens de sons diversos e de trechos de outras músicas, além de explorar bastante o som da TB 303, aparelho construído para simular linhas de baixo que, desprezado pelos músicos “tradicionais”, foi alçado à categoria de objeto de culto pelos produtores de música eletrônica. Também não se pode esquecer, ao contar esta história, da influência da cultura dos Sound Systems, trazida pelos imigrantes jamaicanos para os EUA, vez que esta teve um papel importante na origem do rap, em fins da década de 70 do século passado. O Rap (que significa Rhythm and Poetry) é um estilo musical no qual a figura do DJ, elemento importante no que viria a ser chamado futuramente de cultura clubber, era também uma peça-chave.

A partir dos anos 90, a música produzida para pistas de dança foi, durante algum tempo, considerada de forma unívoca, sendo categorizada como "Dance Music". Com a consolidação e expansão do estilo, a denominação genérica de “Música Tecno” começou a ser utilizada, sendo substituída depois pela expressão "Música Eletrônica", já que “Tecno” é, na verdade, a denominação de um gênero específico.

Como visto neste pequeno histórico, o que hoje se chama de música eletrônica é fruto do cruzamento de vários movimentos, em várias partes do globo. O contexto histórico do surgimento da ME, envolve ainda aspectos como a criação, popularização e conseqüente barateamento de aparelhos como sintetizadores e grooveboxes, assim como de computadores, além do desenvolvimento e disseminação de softwares destinados à produção musical. Esses também foram fatores de potencialização do gênero pois, embora usados por músicos de todos os tipos e estilos, é na música eletrônica que tais recursos adquirem papel central, não só na produção das faixas mas também na própria concepção musical, pensada e elaborada a partir dos mesmos.

Um elemento que define a música eletrônica, ao lado de características estéticas específicas – como determinados andamentos, timbres e texturas - e do modo de composição – binário, é sua associação com o underground. O termo underground adjetiva produtos culturais cuja intenção artística sobrepuja a intenção comercial, e que são produzidos, executados, divulgados e/ou distribuídos de forma alternativa. Assim, mesmo que sejam construídas de forma binária e que possuam timbres e texturas aproximados, faixas de caráter mais pop não se encaixam na definição de música eletrônica como música underground.

De acordo com esta ótica, predominante no meio da música eletrônica, a música tocada na maioria dos clubes direcionados à freqüência homossexual – segmento social costumeiramente associado ao estilo – não é considerada exatamente como eletrônica, visto que nesses locais são executadas as vertentes de caráter mais comercial, baseadas em fórmulas, da House Music.

DIFERENTES SONS, DIFERENTES PÚBLICOS, DIFERENTES IDENTIFICAÇÕES

Na Inglaterra, as primeiras festas de música eletrônica – as Raves - eram misturadas em termos de som e de público. Nessas festas, os participantes eram todos ravers e dançavam ao som de música “tecno”. Com o tempo, aquela música foi se especificando, gerando subgêneros, ganhando nomes diferentes, e públicos mais específicos foram se formando. As maneiras de desfrutar daquela música também foram se diferenciando. Fortaleceu-se a associação de determinados costumes, preferências e objetos - inclusive substâncias psicoativas - com os diferentes gêneros de música eletrônica. Assim, embora não exista uma correlação necessária, existe uma convergência / associação consagrada entre determinados segmentos sociais e alguns subgêneros da Música Eletrônica. Por exemplo: a House é constantemente associada aos gays e, ao menos em São Paulo, onde a cena Drum’n Bass foi muito forte no início deste século, o estilo é associado a jovens pobres das periferias, em sua maioria negros e afrodescendentes, denominados “cibermanos” (ou clubbers-favela, como já chegaram a ser chamados, segundo Palomino, 244). Já o Tecno e o Trance são mais comumente associados à preferência de jovens brancos pertencentes às camadas média e alta.

Assim, a fragmentação dos estilos foi acompanhada por uma diferenciação do público e dos contextos de fruição. Deste modo, as festas de Drum and Bass se tornaram bem diferentes das festas de Eletro, por exemplo, que, por sua vez, também são bem diferentes das festas de Trance (Hoje em dia, as raves, por exemplo, são, na maior parte das vezes, festas de música Trance, embora em São Paulo ocorram algumas raves de Tecno).

(...)

Claro que o texto não prevê o universo que gira em torno da música eletrônica e tão pouco faz alusão à experiência de transcendência que os adeptos dizem experimentar, já que o artigo se ateve aos dados etmográficos. Outros aspectos pretendo pôr em outros posts. Por hora, acho que é possível se ter uma base do que é e como a música eletrônica evoluiu, suas raízes e vertentes.

Manifesto pela liberdade

|
A música eletrônica aproxima o homem de si mesmo. Dá asas ao espírito, que voa em busca de novas sensações e descobertas.
Festejar é celebrar a vida. É deitar na grama e lembrar que todos somos parte da natureza e que sem ela não existimos. É curtir o hoje, esquecer o ontem e não temer o amanhã. Festejar é deixar que a música seja o maestro soberano do corpo. É perceber que dinheiro nenhum substitui o valor das amizades. Festejar é ser livre para decidir os rumos da própria vida.
Nos últimos tempos, porém, vimos as raves serem invadidas por pessoas despreocupadas com qualquer filosofia ou valor, interessadas apenas em experimentar novas drogas e testar os limites do corpo. As festas foram contaminadas por preconceito, brigas, hipocrisia. E a magia foi se apagando.
Essa distorção de valores abriu espaço para ataques por parte da mídia e das autoridades. Nosso paraíso está seriamente ameaçado pela censura. Somos um risco porque despertamos de um estado anestésico e caminhamos para a conquista da liberdade plena: de expressão, de escolha, de pensamento.
O destino das raves está nas suas mãos. Traga o melhor de você para a festa. Compartilhe-a com quem você ama. Pois não é com palavras que se explica o poder redentor dos primeiros raios de sol ou que se entende a energia de um abraço.
Vamos resgatar a magia. Criar um ambiente de amor, paz, união e respeito, onde todos possam curtir a música, os amigos e a natureza em harmonia. Vamos construir uma grande comunidade onde todos somos irmãos. Unidos pela música. Essa é a essência das raves e lutaremos por ela até o fim.
Podemos ir além. Pela primeira vez na história, temos chance real de construir um mundo melhor. Você tem poder. Pressione a imprensa e, principalmente, seja a imprensa. Nosso maior inimigo é a ignorância. Espalhe a mensagem para bem longe dos limites da festa.
E quando a força de nossa voz tocar o coração de cada ser humano e alcançarmos uma nova consciência, teremos, enfim, conquistado a tão sonhada liberdade.
Texto extraido do perfil manifestopelaliberdade do MySpace MySpace